A Propósito: Uma cidade incivilizada
- A Voz Regional
- 21 de mar. de 2017
- 3 min de leitura
Monte Aprazível lembra uma cidade européia. Do século XIV. Paris, Londres, Viena e demais eram lugares extremamente sujos, com suas vielas cheias de riscos para quem saia de casa. Não existia naqueles lugares a consciência de que o espaço urbano era local de convivência coletiva, como ocorre agora depois de 700 anos. A situação de caos urbano na Europa só começa a mudar anos depois da Revolução Industrial, a partir do século XIX.
Andar pelas ruas européias era se colocar em situação de risco, com o pedestre disputando espaços tomados por cavalos e carroças desembestados, porcos revirando lixos, bodes cabriolantes, caldeirões de comidas fumegantes pelas esquinas, comerciantes pregoando suas mercadorias espalhadas pelos passeios, homens ferrando cascos de cavalos e forjando espadas pelas calcadas. As alamedas dos cemitérios, por mais tranquilas, eram pontos de encontros para conversas mais produtivas.
São Paulo, no início do século XIX, era apenas uma aldeia, enquanto o Rio de Janeiro, com a vinda da família real portuguesa, em 1808, passou a copiar a nova tendência das cidades européias que passam a privilegiar o espaço urbano como de todos e com um mínimo de mobilidade.
Do ponto de vista da mobilidade, Monte Aprazível está 200 anos atrasada. E não tem par nas redondezas. Tanabi tem mobilidade muito razoável, se comparada com sua vizinha. Poloni é uma maravilha em termos de liberdade para se caminhar, com seus passeios todos calçados com esmero.
O que se vê em Monte Aprazível é muito diferente. Suas calçadas são pistas de corridas com obstáculos de toda ordem e natureza. Há os casos em que a calçada não existe, nunca existiu desde a emancipação da cidade, de 1925, aqui; ali trechos danificados; alhures, com desnível de meio metro; acolá atulhada com material de construção; noutra parte, ocupada por garagem. Faltam-me advérbios, mas sigo em frente sem eles, por ser fundamental demonstrar os comércios expandidos. As calçadas são puxadinhos e vitrines de lojas, lanchonetes promovem piqueniques nelas, bares as incensam e as poluem com seus turíbulos em brasa que sapecam os churrasquinhos.
Deus, me livre e guarde!
Esse cenário é triste pela poluição, sujeira e breguice. Mas ele é diabólico, quando se considera que a calçada é um passeio, como a praça, a expressão máxima da democracia, da igualdade humana.
Há tempos, Monte Aprazível, tem mantido em cativeiro, retirado de parcela muito grande de sua população o direito de ir e vir. Estatisticamente, 1/3 dos brasileiros, em maior ou menor grau, de forma permanente ou temporária, padecem de deficiência locomotora, visual ou física. Como se trata de estatística nacional, esses prisioneiros representam, pouco mais ou pouco menos, oito mil pessoas. Parece inverossímil, não? Parece porque são invisíveis, estão confinados dentro de casa. Inseguros para rodear a quadra em que moram, não são vistos em lugar nenhum. São homens e mulheres, católicos e crentes, jovens, maduros e velhos, que não têm cidadania, por não circularem pela cidade. São pessoas que moram em Monte Aprazível, mas não vivem em Monte Aprazível.
Até aqui, a cidade foi administrada por profissionais da política. Desde primeiro de janeiro temos um amador político na prefeitura. Que nos governe, então, ao menos no quesito civilidade e mobilidade urbana, o médico que, certamente, convivendo por 40 anos com as limitações do ser humano, ganhou sensibilidade para medir a dimensão humana que pode alcançar ações que se aparentam de menor importância.
Não custa lembrar que Nelson Montoro, aos 65 anos, é míope em grau elevadíssimo, compondo, portanto, o contingente com mobilidade limitada.
É fácil perceber que os últimos prefeitos não deram a mínima importância à mobilidade das pessoas. Sempre se privilegiou o motorista, especialmente o último prefeito, que teve o estacionamento como preocupação relevante. O município não conta sequer com uma equipe de fiscais de postura. Têm-se fiscais tributários ociosos e apenas dois de postura, um exercendo função burocrática e outro, com mandato legislativo, não fiscaliza, não autua.
A situação preocupa o novo prefeito que já encontrou alternativa. Vai enviar projeto à Câmara, como adiantou à coluna, unificando as funções de fiscal de tributo e postura, abrindo brecha na legislação para que os funcionários possam fiscalizar e punir o contribuinte relapso e com postura incivil.
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