Diácono Everaldo Fochi: Luta espiritual
- A Voz Regional
- 6 de fev. de 2017
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Os termos “asceta” e “atleta” não só partilham a mesma etimologia, mas referem-se a um horizonte muito mais amplo do que o daqueles que colocam à prova o próprio corpo na procura de Deus ou nas competições desportivas. O “agon”, o combate, diz respeito a cada um de nós, chamado a enfrentar o duro ofício de viver e o exigente desafio do próprio ser “animal social”. E se essa luta pode indicar uma instância de competitividade, por vezes excessiva ao assumir-se como critério exclusivo, a luta espiritual é dela o saudável contraponto. Exigência radical para uma vida interior robusta, presente em todas as religiões e em numerosas escolas filosóficas, a luta espiritual na tradição judaico-cristã surge desde as primeiras páginas da Bíblia: chamado a “dominar” no interior da criação, o ser humano deve exercitar um domínio sobre si, sobre o mal que o ameaça: «O pecado deitar-se-á à tua porta e andará a espreitar-te. Cuidado, pois ele tem muita inclinação para ti, mas deves dominá-lo» (Génesis 4,7). Trata-se, portanto, de uma luta interior, não dirigida contra seres exteriores a si, mas contra as tentações, os pensamentos, as sugestões e as dinâmicas que levam à consumação do mal. O apóstolo Paulo, servindo-se de imagens bélicas e desportivas (a corrida, o pugilismo… reemerge a justaposição atleta/asceta), fala da vida cristã como um esforço, uma tensão interior para permanecer na fidelidade a Cristo, que comporta o desmascaramento das dinâmicas através das quais o pecado faz caminho no coração humano, de modo a podê-lo combater na sua fonte. O coração, com efeito, é o lugar desta batalha. O coração entendido no sentido, derivado da antropologia bíblica, de órgão que melhor pode representar a vida na sua totalidade: centro da vida moral e interior, sede da inteligência e da vontade, contém os elementos constitutivos daquela que nós chamamos a “pessoa” e aproxima-se do que definimos por “consciência”. Mas tudo isto, no cristianismo, não é, de todo, simplesmente um movimento de “discernimento e de ajustamento psicológico”: esta, diz Paulo, é «a luta da fé» (1 Timóteo 6,12), a única luta que pode ser definida como “boa”. É a luta que nasce da fé, do ligame com Cristo manifestado desde o Batismo, que acontece na fé, ou seja, na confiança na vitória já trazida pelo próprio Cristo, e que conduz à fé, à sua conservação e ao seu robustecimento. (Enzo Bianchi, in Monastero di Bose)
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