Estar no mundo e não ser do mundo
- A Voz Regional
- 25 de jul. de 2016
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A construção de estruturas exteriores e a “cristianização”, tentativa de conquistar «para Cristo» novos territórios geográficos e culturais/espirituais e anexá-los ao império cristão (“Christianitas [Cristandade]) já existente foi uma missão levada a cabo pelos cristãos durante a manhã da sua história. Em vez da conversão dos pagãos, uma “nova evangelização” deveria começar pela conversão dos cristãos, uma viragem do exterior para o interior, da letra para o Espírito, do estático para o dinâmico, do «sermos cristãos» para o «tornarmo-nos cristãos».Se esse processo tiver de ser, em certo sentido, um regresso, não deverá constituir uma vã tentativa de regressar a qualquer uma das formas históricas extintas da Igreja, mas antes um regresso àquele que, embora sendo igual a Deus, escolheu a forma humana. Se nós desejamos seguir Cristo, devemos renunciar a qualquer anseio por que o cristianismo ocupe um lugar privilegiado neste mundo. Cada um de nós deve tornar-se “uma pessoa mais”, e tomar a sério essa solidariedade para com as pessoas do nosso tempo, em favor das quais a Igreja se empenhou mediante as bonitas palavras do início da Constituição Pastoral “Gaudium et spes”: «As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias de Cristo».Não receemos perder-nos assim no meio da multidão, ou perder a nossa identidade cristã. Aquilo que nos distinguirá da massa de gente que nos rodeia (mas também o que nos ligará àqueles com quem nós próprios não nos tentaríamos aliar) não são as cruzes nos estandartes nem nas paredes dos edifícios públicos, mas, precisamente, a nossa disponibilidade «para assumir a forma de servos». Tal atitude (“quenose” – o autoesvaziamento da nossa própria vontade) significa adotar uma postura acentuadamente não conformista no meio de uma civilização regida de forma predominantemente pelo êxito material: aqueles que vivem assim podem ser ao mesmo tempo um «sal da terra» oculto e também uma «luz do mundo» bem visível. Cristãos, não continueis a ser «um povo separado» – é assim que eu entendo a mensagem do Concílio. O apóstolo Paulo conduziu-nos para fora desses limites há muito tempo. Não tenhais medo de mergulhar no mundo, de ser um com as pessoas dos nossos dias, nos seus cuidados e interrogações, nas suas angústias e esperanças. Chorai com os que choram, alegrai-vos com os que estão alegres. Porém, nunca esqueçais: isto não é um apelo à conformidade, mas ao amor ( TomášHalík, “Quero que tu sejas – Podemos acreditar no Deus do amor?”).
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