João Francisco Neto: A crise da globalização
- A Voz Regional
- 21 de mar. de 2017
- 2 min de leitura
Há tempos que a globalização já vem sendo dada como algo certo e irreversível, pois a passos rápidos caminhamos para um mundo sem fronteiras e cada vez mais integrado. Mas eis que, com a eleição de Donald Trump, o mundo sofreu um choque de realidade, na medida em que vimos que nem todos estavam tão contentes assim com a globalização. E foram justamente esses descontentes que levaram Trump ao poder e aprovaram o Brexit, a decisão de saída do Reino Unido da União Europeia.
Aliás, desde a década de 1990, a Europa vem enfrentando um surto de nacionalismos de povos que, até então, passavam despercebidos. Com a queda do Muro de Berlin e a consequente derrocada do comunismo soviético, surgiu uma série de povos e nações dos quais ninguém mais se lembrava. Da desintegração da antiga Iugoslávia formaram-se várias repúblicas, como a Eslovênia, Croácia, Macedônia, Sérvia, Montenegro e Bósnia, além das regiões autônomas, como o Kosovo.
Esta multiplicidade de povos e nações dá a ideia da diversidade dos nacionalismos que sempre existiram no continente europeu, e que por décadas ficaram sufocados e silenciados por força da opressão do regime soviético. Com a desintegração da antiga União Soviética, esses nacionalismos emergiram com grande impacto.
Assim, a partir dos anos 1990, enquanto o leste europeu fervilhava por conta de conflitos de acomodação de tantos povos agora “libertos” do comunismo, a parte mais rica da Europa crescia embalada pelo sonho dourado de uma união ancorada nos países mais fortes, como a Alemanha e a França. A ideia de uma comunidade europeia única surgiu após o final da 2ª Guerra Mundial.
Cansados de tantos conflitos sangrentos, os principais países europeus entenderam que a melhor solução para uma paz duradoura seria o compartilhamento de interesses econômicos. Afinal, se tivermos interesses em comum, não nos convém fazer guerra. Dessa forma, a União Europeia foi se consolidando como um importante bloco econômico, capaz de fazer frente às potências como Estados Unidos e China.
Ocorre que, nos últimos anos, ficou muito claro que a União não era tão unida, assim, ou seja, dentro do bloco havia países com mais privilégios e com maior poder de mando do que os demais. Hoje todos reconhecem que o país central e mais poderoso, e que dita a regras da comunidade europeia, é a Alemanha.
Os tratados da União Europeia obviamente não conseguiram eliminar as desigualdades econômicas que havia antes da formação do bloco. Por isso, muitos países acabaram sofrendo duras consequências internas para adaptação à nova sistemática, principalmente à moeda única, o euro. O caso mais evidente foi o da Grécia, que até hoje está atolada numa crise financeira sem fim. Mas há outros países que passam por crises similares, inclusive com altas taxas de desemprego estrutural, como Portugal e Espanha.
Isso tem levado milhões de pessoas a um profundo desencanto com a outrora festejada globalização dos mercados. O primeiro país que tomou a decisão de pular fora do barco europeu foi o Reino Unido; entretanto, há outros que cogitam de seguir o mesmo caminho. A simples decisão de saída do Reino Unido já representou um monumental abalo nas estruturas da União Europeia, e, por conseguinte, da globalização, que por ora, sofre um grave refluxo.
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