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João Francisco Neto: A desglobalização

  • Foto do escritor: A Voz Regional
    A Voz Regional
  • 9 de jan. de 2017
  • 2 min de leitura

Muito já se escreveu sobre a surpreendente vitória eleitoral de Donald Trump nos Estados Unidos, e muito mais haverá de ser dito e escrito, até que se analisem muito bem todos os fatores que levaram àquele resultado. Uma das hipóteses veiculadas tem a ver com a chamada desglobalização. Como o próprio nome indica, a desglobalização é um fenômeno caracterizado pelos movimentos contrários à globalização e à ação de seus representantes máximos, entre os quais o FMI, o Banco Mundial e as grandes corporações transnacionais.

Em síntese, a desglobalização promove o protecionismo, o nacionalismo, e é favorável ao levantamento de barreiras contra o fluxo mundial de pessoas, mercadorias e capitais. Tendo alimentado a sua campanha eleitoral com essas bandeiras, Trump conquistou a presidência dos Estados Unidos, prometendo aos seus eleitores trazer de volta os empregos que haviam sido deslocados para a China, por força da globalização da economia.

Um pouco antes, a globalização havia enfrentado a sua pior onda contrária, que foi a decisão tomada pelo Reino Unido de sair da União Europeia, fato mundialmente conhecido como “Brexit”. Essa decisão foi o resultado de uma votação popular (um plebiscito), que venceu por uma pequena margem, tendo recebido os votos de cidadãos que se sentiam prejudicados com a chegada das massas de refugiados, com a abertura das fronteiras para produtos asiáticos, e pela fuga de empresas para o exterior em busca de mão-de-obra mais barata, levando também os empregos para fora do país. O Brexit representou não só um rombo na até então sólida União Europeia, como provocou um abalo nas estruturas da globalização.

A desglobalização atua para desfazer os efeitos nocivos da globalização. Nos Estados Unidos, a região dos Grandes Lagos, outrora a área mais industrializada do país, agora ficou conhecida pelo codinome pejorativo de “Cinturão da Ferrugem”. Lá se concentravam as principais indústrias do ramo siderúrgico, automobilístico e metalúrgico. Entretanto, por diversas causas – entre elas, a globalização -, aquela região se encontra hoje totalmente sucateada e com altas taxas de desemprego. Grande parte da produção industrial migrou para outros países, para baixar seus custos, sacrificando os empregos locais. Obviamente, os eleitores de lá votaram majoritariamente em Trump, que lhes prometia os empregos de volta.

Estudiosos do tema ainda debatem se os movimentos antiglobalização sinalizam para uma nova era ou se seriam apenas de uma condição transitória. A esta altura não faltará que se pergunte: e nós, no Brasil, o que temos a ver com isso? Como país emergente que somos, temos tudo a ver.

Basta observar que a retração da economia chinesa fez com que o preço das commodities – matérias-primas negociadas nos mercados internacionais – despencasse e atingisse em cheio a economia brasileira, que vinha se beneficiando dos enormes volumes de exportação para a China. De certa forma, até a China já adota posições antiglobalização, voltando-se para o seu enorme mercado interno. O avanço do movimento antiglobalização fará perdedores e ganhadores; daí que, como se já não bastassem os nossos graves problemas internos, esse será mais um desafio a ser enfrentado pelo Brasil na complexa arena das relações internacionais.

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