top of page

João Francisco Neto: A Sociedade Líquida

  • Foto do escritor: A Voz Regional
    A Voz Regional
  • 31 de jan. de 2017
  • 2 min de leitura

A recente morte do filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017) nos conduz necessariamente a algumas reflexões. Como um dos mais importantes pensadores da condição humana nos tempos da pós-modernidade, Bauman nos deixa um legado de ideias provocadoras e instigantes.

Karl Marx, na sua conhecida obra “O Manifesto Comunista” (1848), lançou uma frase tão perturbadora quanto o próprio comunismo, que então se anunciava: “Tudo que é sólido se desmancha no ar”. O que Marx queria dizer é que, naquela época (o século 19), todas as estruturas históricas, então solidamente estabelecidas, começavam a se desmanchar com o advento de um novo tempo de revoluções. Ele não estava errado, pois de lá para cá o mundo nunca mais seria o mesmo.

Depois de muitos sonhos e revoluções, o comunismo literalmente desmoronou-se com a queda do Muro de Berlin (1989), inaugurando, a partir de então, uma nova era: a era da “modernidade líquida”. Trata-se de um conceito criado por Bauman, que tem uma vasta produção de estudos que tratam das incertezas da vida no período denominado por muitos de “pós-modernidade”. 

Para Bauman, a vida na pós-modernidade perdeu a solidez das certezas que historicamente marcavam a trajetória humana. Bauman chama esse fenômeno de “modernidade líquida”. Líquida porque não tem mais forma e, num mundo cheio de possibilidades, vai se amoldando a qualquer situação, ao contrário das sociedades antigas que planejavam a vida e estabeleciam metas sólidas para o longo prazo.

Hoje, com avanço das tecnologias e com a exacerbação do consumo, tudo ficou mais rápido, porém menos sólido. É possível fazer amigos com a rapidez da internet; mas, esses “amigos” somem da mesma forma como chegaram. A família já não é mais tão sólida e unida como era; a fragilidade e a incerteza se estendem às relações afetivas, à política, à religião, etc.

Neste mundo de incertezas, em que as relações sociais são fluidas e líquidas, as pessoas vivem assoladas por dúvidas, ansiedade e depressão, em busca de um padrão de felicidade que a maioria não consegue alcançar. A sociedade pós-moderna passou de uma fase “sólida”, em que havia projetos simples para a vida toda, para uma fase “líquida”, em que as pessoas têm a sensação de poder sempre “começar de novo”. Mas só a sensação.

Nestes tempos de sociedade líquida, os valores mais importantes da vida acabam submergindo num processo em que tudo pode ser transformado em mercadoria, disponível para o consumo imediato: o amor, as relações pessoais, e, um último caso, até as próprias pessoas.

Este é o cenário amargo dos tempos atuais, em que os valores sólidos e tradicionais de há muito foram deixados para trás. Assim, podemos estar certos de que o mundo sentirá muita falta de Bauman e de suas preciosas reflexões.

Commenti


A Voz Regional © 2020

bottom of page