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João Francisco Neto: O Centrão

  • Foto do escritor: A Voz Regional
    A Voz Regional
  • 13 de fev. de 2017
  • 2 min de leitura

A recente eleição do presidente da Câmara dos Deputados trouxe à tona novamente a silenciosa, mas permanente atuação do “centrão”, um grupo formado por mais de 200 deputados federais, filiados aos mais diversos partidos. São parlamentares que integram o que se costumava chamar de “baixo clero”. Com tantos votos, o centrão tem poder para pautar votações e, num clima de oportunismo e esperteza, levar vantagens nem sempre republicanas, como se convencionou dizer.

Numa perspectiva histórica, o centrão pode ser comparado ao grupo de deputados que na Revolução Francesa (1789) sentavam-se no centro do Parlamento, entre a esquerda (os jacobinos) e a direita (os girondinos). Era um bloco de representantes de pouca expressão, que, por suas posições políticas movediças e vacilantes, ficaram pejorativamente conhecidos como o “pântano”. Como não tinham uma ideologia bem definida, seus interesses variavam conforme as circunstâncias e os temas a serem votados.

No Brasil, embora o centrão tenha se notabilizado nos últimos anos, sua origem remonta aos tempos da Assembleia Nacional Constituinte (1987), quando era integrado por um imenso grupo de deputados conservadores, que barravam as tentativas de mudanças mais à esquerda. Em 1988, depois de aprovada a Constituição, o grupo se desfez em virtude das desavenças eleitorais e da baixa popularidade que enfrentava.

Daí para frente, sem uma liderança forte, aqueles partidos e seus parlamentares ficaram anos nas sombras, contentando-se com cargos de terceiro e quarto escalões (que no Brasil são milhares!), entre uma ou outra emenda parlamentar. E assim os presidentes da República conseguiam atravessar seus mandatos, valendo-se do antigo, mas eficaz, método do “toma lá, dá cá”, para aprovar medidas de interesse do governo.

Tudo vinha sem muita novidade, até que, com a eleição da presidente Dilma o caldo entornou, devido à sua falta de paciência para lidar com esse tipo de questão. Consta que Dilma sequer recebia os deputados da turma do centrão. Não demorou muito para que fossem arregimentados pela forte liderança de Eduardo Cunha e passassem para a linha de frente do parlamento. Desde então, nada mais poderia ser aprovado sem a adesão daquele grupo.

Com a queda de Cunha, o centrão segue em frente, mas sem a sua principal liderança, tende a perder espaço de poder, como se viu na recente eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, em que sofreu um forte revês político.

No fundo, o centrão está intimamente ligado ao presidencialismo de coalizão, em que o governo precisa fazer acordos para obter o apoio de dezenas de partidos (a tal “base aliada”), sob pena de não conseguir aprovar seus projetos. Agora, embora enfraquecido, o centrão ainda não acabou. É só esperar para ver os próximos passos.

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