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João Francisco Neto: Reforma protestante, 500 anos

  • Foto do escritor: A Voz Regional
    A Voz Regional
  • 16 de out. de 2017
  • 3 min de leitura

Exatamente no dia 31 de outubro de 2017 fará 500 anos que Martinho Lutero desencadeou uma das maiores fraturas religiosas da história, que provocaria a divisão dos cristãos entre católicos e protestantes. Tudo se iniciou no ano de 1517, quando, Lutero, um jovem teólogo e monge agostiniano alemão, afixou nas portas da Igreja de Wittenberg um documento contendo 95 teses que denunciavam os abusos da Igreja, ao mesmo tempo em que convidavam para um profundo debate sobre as bases teológicas da época.

Provavelmente Lutero não soubesse, mas, com aquele gesto, foi lançada a primeira faísca de um incêndio que mais tarde acabaria para sempre com a unidade da fé cristã no mundo ocidental.

O principal ataque à Igreja era a condenação da venda de cartas de indulgências, ou seja, a possibilidade que os católicos tinham de “comprar” o perdão e a salvação, mediante contribuições financeiras à Igreja. Na prática, a afronta de Lutero significava um rompimento com a Igreja de Roma.

De acordo com os historiadores, embora Lutero nunca tivesse tido a intenção de separar-se da Igreja Romana, suas teses constituíam um verdadeiro desafio à autoridade do então Papa Leão X, que, pela venda das indulgências, recolhia fundos para levar adiante as obras de construção da monumental Basílica de São Pedro.

Um pouco antes da manifestação pública de Lutero, os abusos eram tantos que, para arrecadar mais fundos, a Igreja havia iniciado a venda de perdão para as penas de pessoas já falecidas. Dessa forma, para aliviar o sofrimento dos parentes mortos, muitas famílias se endividavam para comprar mais e mais indulgências; “tão logo uma moeda no caixa cai, a alma do purgatório sai” era a frase atribuída ao encarregado pela venda das indulgências, o frade dominicano Johann Tetzel.

No início, as teses de Lutero não foram levadas muito a sério pelo Papa, que apenas ordenou que se iniciasse uma controvérsia acadêmica, para tentar desconstruir a argumentação de Lutero. Obcecado pela fé – seu lema era “O justo viverá pela fé”, Rom. 1:17) -, Lutero atacava duramente a hipocrisia dos fieis que se valiam de penitências e da compra de indulgências, como meios de alcançar a salvação.

Segundo consta, o Papa teria dito que tudo não passava de uma trapalhada de um monge alemão bêbado e que, por isso, aquele assunto não iria adiante. Mas, com o passar do tempo, e com o apoio da nobreza alemã, o ato de Lutero deflagraria uma série de movimentos, nem sempre pacíficos, que resultariam na chamada Reforma Protestante. Para isso, muita gente haveria de morrer em nome da fé cristã.

Quando Lutero passou a defender que a Igreja deveria ser uma comunidade puramente espiritual, sem nenhum outro poder de jurisdição, seu ataque atingiu não apenas os abusos dos poderes da Igreja, mas à própria justificação desses poderes. Com a derrocada do poder temporal da Igreja Católica, abriu-se então uma porta para a construção do moderno Estado de Direito. Séculos mais tarde, Max Weber escreveria uma obra – hoje, um clássico -, que vinculava a origem do capitalismo aos princípios éticos da Reforma: “A ética protestante e o espírito do capitalismo”.

É isso aí: como se vê, mesmo tendo passado tanto tempo, os efeitos da Reforma de Lutero ainda seguem importantes e vivos. Hoje, para além das questões da reforma protestante, temos de ficar atentos para os crescentes movimentos de ódio contra minorias religiosas, como os muçulmanos na Europa, e os cultos de matriz africana no Brasil.

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