João Francisco Neto: Salvador da Pátria
- A Voz Regional
- 22 de mai. de 2017
- 2 min de leitura
A cada dia que passa, aumenta o desencanto da população brasileira com a política em geral, e com os políticos, em particular. Reina um descrédito generalizado com tudo o que se refere ao ambiente político, em que todos são atirados numa vala comum da desconfiança, sejam políticos bons ou maus, éticos ou antiéticos. As revelações da Operação Lava Jato – na verdade, as delações – têm trazido a público os intestinos das jogadas e maracutaias políticas, tudo movimentado por espantosas quantias de dinheiro da corrupção.
No próximo ano haverá eleições presidenciais. Entretanto, há um vazio de novas lideranças políticas e principalmente de homens públicos que possam receber a confiança da maioria da população. Nessa atmosfera de desesperança, o instituto de pesquisa Datafolha (“Folha de S. Paulo”, 30/4/17) publicou uma pesquisa em que o ex-presidente Lula figura em 1º lugar nas expectativas de voto; em seguida, estão Bolsonaro, Marina e Dória. É o que teremos para 2018.
Na verdade, boa parte da população sempre fica à espera de um grande líder, que possa retirar o País da pobreza e conduzi-lo para um futuro de crescimento e riqueza. Afinal, todos sabemos das imensas potencialidades oferecidas pela natureza no Brasil. Entretanto, os séculos vão passando e esse líder forte e decidido nunca chega.
E assim vem sendo, desde Getúlio Vargas (o “pai dos pobres”); Juscelino Kubitschek, com seu espírito modernizador; Jânio Quadros, com sua “vassourinha”, para acabar com a corrupção; o movimento das “Diretas-Já”, a Constituinte, Tancredo Neves e Ulysses Guimarães, que prometiam dar um novo rumo ao País; Fernando Collor, que assumiu o poder numa aura de moralidade (ele era o “caçador de marajás”); e por fim, chegamos a Lula, que ora se debate para escapar das garras da Justiça e assim retornar ao poder.
O fato é que nunca existiu, e nem existirá, esse “salvador da Pátria” que possa, sozinho, conduzir qualquer país que seja à glória, à ordem e ao progresso. Essa ideia nos remete ao mito do “Sebastianismo”, surgido em Portugal.
No final do século 16, com a morte do jovem rei D. Sebastião, Portugal cairia sob o domínio espanhol. Ocorre que o rei morrera numa batalha no norte da África, porém, como seu corpo nunca foi encontrado, isso daria margem a muitas lendas. Uma delas previa que o rei voltaria para resgatar Portugal do domínio estrangeiro, e restaurar toda a glória da nação lusitana. D. Sebastião chegaria montado num cavalo branco, numa manhã encoberta por forte nevoeiro. Como se sabe, o rei nunca retornou e Portugal amargou séculos de atraso.
Não obstante, o mito do sebastianismo foi alimentado ao longo dos séculos, chegando mesmo até o Brasil, onde o povo sempre nutriu forte esperança pela chegada de um messias na política – um “salvador da Pátria” -, para dar fim à pobreza e levar o País ao progresso. Como vimos, isso também não ocorreu até hoje, pois um verdadeiro País é uma construção coletiva, em que todos devem participar das mudanças e jamais será uma obra de um herói solitário, seja ele quem for.
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