João Francisco Neto: Siga o dinheiro
- A Voz Regional
- 21 de jun. de 2017
- 2 min de leitura
Nos últimos tempos, a população brasileira vem assistindo, de forma estarrecedora, às revelações dos inúmeros escândalos de corrupção, envolvendo quantias de dinheiro jamais vistas. São milhões e milhões de dólares e reais que transitam para todos os lados, sempre de forma criminosa.
Não é de hoje que existe corrupção na área pública no Brasil, embora sempre se considerou que seria muito difícil detectar os grandes esquemas, que se utilizam de sistemas sofisticados para desviar o dinheiro e retirá-lo do país. Em geral, são utilizadas empresas de fachada (offshores), instaladas em paraísos fiscais somente com essa finalidade. Para dar andamento ao esquema, entram em cena os famosos operadores de mercado, muitos deles atualmente presos pela Operação Lava Jato.
Os investigadores da Operação Lava Jato têm lançado mão de uma fórmula muito simples para desvendar a corrupção, que é seguir o rastro do dinheiro. Trata-se de uma ferramenta importante, utilizada por vários países no rastreamento do dinheiro público.
Nos Estados Unidos, durante o escândalo de Watergate, os dois jornalistas que investigavam o caso, no início enfrentavam grandes dificuldades para decifrar o esquema de corrupção montado pelo governo Richard Nixon. Foi então que receberam um curto conselho de sua fonte de informações: “sigam o dinheiro”. Esse informante secreto era o número 2 do FBI, Mark Felt, que à época recebeu da imprensa o codinome de “Garganta Profunda”.
De fato, os jornalistas passaram a seguir a trilha do dinheiro e assim desvendaram o intrincado esquema de ilegalidades cometidas pelo Partido Republicano, que, ao final, resultaram na renúncia de Richard Nixon à Presidência dos Estados Unidos.
Daniel Kaufmann, antigo diretor do Banco Mundial, especialista em governança pública e combate à corrupção, conta a história de um preso que, perguntado por que razão roubava bancos, teria respondido que fazia aquilo porque lá é que estava o dinheiro. E assim ocorre com o orçamento público. É de lá que saí o grosso do todo o dinheiro público.
Daí que o orçamento pode ser uma grande fonte de corrupção, pois é dele que saem todos os recursos para obras, investimentos públicos, etc. A ordem, então, é seguir a trilha do dinheiro do orçamento. Para isso já existem os tribunais de contas e os próprios parlamentares, a quem cabe fiscalizar o Poder Executivo.
Infelizmente, como temos visto, isso não tem sido suficiente para estancar a corrente de corrupção. Cabe então, por parte de instituições independentes, executar o monitoramento permanente do caminho do dinheiro público – para tornar o controle orçamentário mais rígido e transparente. Certamente, isso também não acabará com a corrupção, mas poderá evitar muitos atos e descobrir outros tantos. Tanto o dinheiro quanto os próprios ladrões.
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