João Francisco Neto: Trump e a maioria silenciosa
- A Voz Regional
- 22 de nov. de 2016
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Em 1969, o presidente americano Richard Nixon, visando obter o apoio da opinião pública para enfrentar as crescentes manifestações de rua contra a Guerra do Vietnam, convocou a imprensa e proferiu um vigoroso discurso, em que apelava pelo apoio da “maioria silenciosa”. Para ele, a maioria silenciosa seria composta pelo grande número de cidadãos americanos que não saíam às ruas para protestar, e que, ao contrário, seriam favoráveis à continuação do conflito. A chamada “maioria silenciosa” seria formada pelos cidadãos comuns, contrários aos valores da contracultura da época, e que pretendiam apenas viver normalmente e criar seus filhos num país estável e seguro. O discurso foi muito bem recebido pela população americana, e Nixon, convencido de que detinha o apoio da grande maioria silenciosa, logo enviou mais tropas para o Vietnam.
Hoje, tanto tempo depois, a maioria silenciosa norte-americana é composta por cidadãos brancos simples, empobrecidos, desempregados, muitos deles trabalhadores rurais do meio-oeste, que não se sentem representados pelos governos dos Democratas. São pessoas que outrora gozavam de uma confortável situação econômica, mas que hoje, amargando o desemprego e a falta de perspectiva, veem com desconfiança os trabalhadores estrangeiros que se submetem a qualquer emprego. Também não entendem (ou não querem entender) a razão pela qual as empresas americanas optam por se instalar fora do país, suprimindo os seus empregos em território americano.
Para esses americanos médios da maioria silenciosa, o governo democrata estaria privilegiando minorias, como negros, hispânicos, mulheres e até imigrantes ilegais. Para os integrantes da maioria silenciosa pouco importa o que se passa na Síria ou no Iraque. Da mesma forma, pouca importância dão a tratados de livre comércio, protocolos e acordos ambientais para redução da emissão de gases, etc. No fundo, gostariam de recuperar o antigo e confortável padrão de vida, alimentado pelo “sonho americano”, que hoje se esvaiu por força da globalização dos mercados.
Donald Trump atuou justamente neste vasto setor da população americana, prometendo-lhes a devolução de seus empregos e a primazia das políticas públicas americanas, ainda que, para isso tenha que descumprir acordos comerciais, tratados, convenções, etc. Em resumo, o discurso “patriótico” de Trump colocou em primeiro lugar os interesses do cidadão médio americano. Não por acaso, seu slogan de campanha foi “Devolver a grandeza à América”.
É para essa gente que Trump fez campanha. Milhões de cidadãos frustrados, que nos últimos tempos sentiam-se decepcionados e desmotivados para participar do jogo político, agora foram despertados pelo discurso politicamente incorreto de Trump. O recado foi recebido pela maioria, que, embora silenciosa, não é surda. O resultado está aí.
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