João Francisco Neto: À beira do abismo
- A Voz Regional
- 28 de nov. de 2016
- 2 min de leitura
Desde o descobrimento do Brasil em 1500 que nunca se falou tanto deCabral, como agora. Mas não exatamente do fidalgo português Pedro ÁlvaresCabral. O assunto em pauta é a prisão do ex-governador Sérgio Cabral, quemonopolizou o noticiário político dos últimos dias. Agora preso, Sérgio Cabral já representou um sopro de renovação nodecadente e corrupto ambiente político do Estado do Rio de Janeiro. Eleitogovernador do Rio de Janeiro em 2006, Cabral foi o responsável pelo início dainstalação das famosas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), o que lheconferiu grande popularidade local e expressiva visibilidade nacional. Mais tarde,em 2009, Sérgio Cabral ajudou a dar início às obras para os Jogos Olímpicos, quetransformariam a cidade do Rio de Janeiro num fervilhante canteiro de obras. Por alguns anos, Cabral viveu embalado num clima de euforia, progresso emodernidade. Porém, a maré começou a virar a partir de 2011, quando vieram apúblico as suas estreitas ligações com empresários acusados de envolvimento ematos de corrupção. Daí para frente, as coisas não pararam de piorar para SérgioCabral. A sua popularidade afundou de vez assim que foram publicadas a fotos deum jantar em Paris, em que Cabral aparece na companhia de empresáriosacusados por corrupção, todos comemorando com guardanapos enrolados nacabeça. A onda de protestos de rua de junho 2013 elegeu Sergio Cabral como oinimigo nº 1 do Rio de Janeiro. A partir daí, foi apenas uma questão de tempopara se chegar à prisão, ora realizada. Sem contar a ação dos corsários franceses que há séculos por láaportavam, não é de hoje que o Rio vem sofrendo pela ação predatória depolíticos demagogos ou corruptos. A partir do golpe militar de 1964, emergiu nacena política do antigo Estado da Guanabara a soturna figura do governadorChagas Freitas, que dominaria o MDB local (atual PMDB), até os primeiros anosda década de 1980, instituindo o “chaguismo”, uma mistura de clientelismo comum intenso loteamento de cargos para aliados. Depois de Chagas Freitas, veio Leonel Brizola, que ficaria marcado porrealizar uma administração polêmica, inclusive com acusação de ter mantidoligações com contraventores do jogo do bicho e de ter sido omisso no combateao tráfico de drogas. Antes de Sérgio Cabral, o Estado do Rio foi governado porAnthony Garotinho (recentemente preso pela Polícia Federal), além de Beneditada Silva e Rosinha Garotinho, entre outros, que pouco ou nada realizaram. E assim, ao longo das décadas, o Rio foi sendo vítima de saques edesmandos, até chegar à situação atual, de verdadeira calamidade pública. Nemos royalties do petróleo foram suficientes para impedir a catástrofe. A triste sinado Rio, de certa forma, reproduz a do Brasil. Utilizando-se de uma metáforacriada pelo filósofo húngaro Georg Lukács, pode-se dizer que, ao longo dos tempos, boa parte da classe política dominante do Rio esteve alheia a tudo, comose vivesse num grande hotel de luxo, porém à beira de um abismo. Finalmente,parece que alguns começaram a cair nele.
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