Mentes consumistas
- A Voz Regional
- 1 de ago. de 2016
- 2 min de leitura
A sociedade pós-industrial trouxe transformações não só para o mundo da tecnologia; na verdade, vem provocando uma profunda mudança no comportamento e no modo de pensar das novas gerações. Para o consagrado filósofo polonês Zygmunt Bauman, a humanidade vive hoje uma cultura do imediatismo, do prazer a qualquer custo, do individualismo, das coisas descartáveis, tudo sob a perspectiva de que a felicidade estaria relacionada com o consumo desenfreado. Para Bauman, a primeira vítima da cultura do imediatismo é o atual sistema educacional: ou se tem uma educação sólida e de qualidade, ou se tem o imediatismo fácil. Hoje, com as maravilhosas ferramentas da tecnologia da informação, as pessoas se afogam numa quantidade inimaginável de informações, mas continuam sedentas por sabedoria. Subjacente a tudo, está o ideal de consumo, como um caminho para a felicidade, que cria um círculo vicioso de associação entre uma coisa e outra. O problema não é exatamente o consumo em si; a grande questão é o desejo insaciável de seguir consumindo, numa busca frenética pela felicidade que só se satisfaz por mais consumo. Nessa situação, o afeto das relações humanas acaba ficando refém da vontade de se apropriar de mais e mais coisas, sempre. Não sem razão, milhões de famílias, em vez de passear nos parques aos domingos, correm ávidas para um shopping center. Assim, muitos pais dedicam boa parte de seus salários para adquirir caros equipamentos eletrônicos para seus filhos, porque se sentem culpados por não lhes dedicar tempo e atenção. Ao mesmo tempo, os filhos nem sempre estão satisfeitos com aquilo que os pais podem lhes proporcionar. Muitos jovens aprendem desde cedo que, no mundo atual, tudo pode ser descartado e trocado por um novo: cadernos, livros, roupas, equipamentos eletrônicos, etc. Em pouco tempo, ocorre uma banalização da vida, pois muitos descobrem que os vínculos sociais – e até pessoas – podem ser descartáveis. Logo as crianças aprendem que, como nas redes sociais, a um simples toque, “amigos” podem ser “excluídos” e outros “adicionados”. Mesmo sem saber, essas crianças e jovens embarcam num verdadeiro processo de reificação, que surge quando as pessoas são tratadas não por suas qualidades humanas, mas sim como coisas ou mercadorias. Esse estado de coisas acaba por gerar um clima de incerteza, que contamina os mais diversos setores da sociedade, como a política, em que ninguém mais acredita na chamada democracia representativa, com seus líderes corruptos e incapazes de identificar e apresentar as soluções que há tanto o povo espera. De certo modo, muitos representantes políticos expressam o que há de pior no consumismo, na medida em que o festival de grampos telefônicos e as delações premiadas nos dão conta dos valores surpreendentes, recebidos a título de corrupção, para abastecer a orgia consumista de pessoas que, por dever, lá deveriam estar para servir ao País e ao seu povo, e não para se servir.
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