Vertigem
- A Voz Regional
- 15 de ago. de 2016
- 2 min de leitura
Uns a chamam de «euforia do verão». Outros «desregramento». O certo é que, durante o verão, é mais fácil advertir esse tipo de vida cada vez mais frequente na sociedade ocidental e que foi qualificado por alguns analistas como «experiência de vertigem».Todos sabemos o que sucede quando subimos uma torre alta e olhamos para o solo. O vazio nos arrasta, e se não seguramos fortemente em algo, corremos o risco de precipitarmos para o abismo. Algo disto pode acontecer na vida do indivíduo. O vazio interior pode provocar uma espécie de vertigem capaz de arrastar a pessoa para a sua ruína.Quando se vive sem convicções profundas ou se carece de verdadeiros ideais, cria-se um vazio interior que deixa a pessoa a mercê de toda classe de impressões passageiras. Então, tudo o que produz euforia ou prazer seduz e arrasta. O indivíduo se deixa levar por qualquer experiência que possa preencher sua sensação de vazio. Necessita possuir e desfrutar tudo. E, além disso, agora mesmo e ao máximo.Outra característica desta «vertigem existencial» é a busca do ruído. A pessoa não suporta o silêncio. Aborrece o recolhimento. Necessita perder-se na agitação e gritaria. Desta forma é mais fácil viver sem escutar nenhuma voz interior.Esta vertigem conduz, em geral, a um estilo de vida onde tudo pode ficar desfigurado. Facilmente, confunde-se a alegria com a euforia, a festa com a orgia, o amor com o sexo, o descanso com a desfaçatez. A pessoa quer viver intensamente cada momento, porém, com frequência, não pode evitar a sensação de que pode estar-lhe escapando algo importante da vida.E, certamente, é assim. Na «experiência de vertigem» encerra-se um engano que Alfonso López Quintás [nascido em 1928, é pedagogo e filósofo espanhol] resume com estas palavras: «As experiências fascinantes de vertigem prometem tudo, não exigem nada e acabam tirando tudo». Para viver uma vida de vertigem, não faz falta nenhum esforço. Somente deixar-se levar pelos impulsos instintivos e ceder à satisfação imediata. O que se passa é que uma vida «desregrada» leva facilmente à dispersão, ao entorpecimento e à tristeza interior.Temos de escutar o convite de Jesus a viver vigilantes, «cingidas as cinturas e acessas as lâmpadas». Para viver de forma mais humana e mais cristã é necessário cuidar mais «do dentro» e alimentar melhor a vida interior. Não é estranho que um mestre espiritual de nossos dias afirme que o homem contemporâneo necessita escutar o célebre lema de Santo Agostinho: «voltemos ao coração». (José Antonio Pagola, sacerdote e escritor espanhol)
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