Walter Spolon: Que festas! Salve o padroeiro!
- A Voz Regional
- 30 de jun. de 2017
- 4 min de leitura
Você se lembra daqueles enormes cartazes, anunciando a Festa do Padroeiro, a famosa Festa de Agosto, que reunia gente de todas as cidades vizinhas? Além das figuras dos Padroeiros, São Bom Jesus e São Sebastião, trazia também o nome das senhoras participantes das famosas Ceias: Italiana, Brasileira, Portuguesa, Árabe, Espanhola e outras mais. Havia até a disputa sadia das cabeças de ceia, para saber qual seria a melhor. O povão aguardava ansioso o início das vendas dos cartões. Ninguém queria ficar de fora.

Essas festas, como disse, eram do povo todo, não só de alguns. As barracas principais eram montadas com bambu e cobertas com encerado, na Praça da Matriz, defronte a Igreja. Quando chovia, a água corria barraca adentro. Por vários e vários anos, o local ainda não tinha calçamento. Era terra pura. Depois veio o calçamento com peti-pavê.
Esses cartazes traziam também, as pessoas responsáveis pelo atendimento ao público: Comerciários, Bancários, Marianos, Filhas de Maria etc. Eles eram carinhosamente confeccionados pelo Justino Padovez, da Tipografia Imperial. A bebida era adquirida no representante da Antarctica em nossa cidade, Sr. José Pires. Além da barraca principal, havia várias outras, para entretenimento das pessoas que preferiam ficar do lado de fora. Havia barraca de tiro ao alvo, de argolas, de coelhinhos, parque de diversões, vendedores de pirulitos, pipoca, amendoim, cocada etc. Era uma festa comunitária, que atendia a todos e não só os que queriam ficar sentados. Já naquela época, havia tômbola e, muito, muito correio elegante. Havia, até, pessoas uniformizadas, para vendê-los. Era um tal de paquerar as meninas, enviando mensagens secretas, para que as mesmas tentassem descobrir quem era o paquera. Muitos namoros e até casamentos ali começaram. Havia, também, um serviço de alto-falantes, na parte externa, que fazia as vezes dos Correios Elegantes. “Agora vamos ouvir a música … que o rapaz de camisa listrada em azul e branco, oferece para a garota loira, de vestido rosa…”. E vai o povão tentar descobrir quem eram os personagens. Todas as loiras, vestidas de rosa, ou até cor parecida, ficavam envaidecidas. “Será que a música é prá mim?” Era o famoso “Footing”. O serviço de alto-falantes era do Costa Netto.

Essas festas aconteceram ao longo de muitos anos, principalmente na época do saudoso Padre Altamiro. E, por falar nisso, lembramos: No último dia da quermesse, havia a tradicional e tão esperada queima de fogos, que deveria acontecer exatamente à meia-noite, ou seja, às 24 horas. Mas, nem sempre o previsto era realizado na hora pré-estabelecida. Acontecia mais ou menos assim:
Por volta de 23:00, ou pouquinho mais, o relógio da matriz apresentava um defeito inexplicável e ficava parado. Enquanto não badalasse às 24 horas, nada de queima de fogos. Até porque o movimento ainda era grande. Muita gente da zona rural e de cidades vizinhas. O som dos alto-falantes e da Banda Musical era forte e, na realidade, ninguém se preocupava em voltar para casa logo depois da meia-noite. Todos queriam se divertir, curtir a festança e esta corria solta.
Lá pelas 2:00H. ou 2:30H., o relógio, misteriosamente, como se fosse um milagre, voltava a funcionar. Aí, não tinha jeito. O negócio era cumprir a promessa do Padre.
Quando soavam as 12 badaladas, começava a queima dos fogos. Um sucesso!


Ao final, a cena mais importante: Um quadro grande, circundado de estrelinhas, apresentava o final esperado: aparecia a figura de Cristo, com a coroa de espinhos, seguido de muito foguetório. Era o ápice. Agora, era esperar pelo próximo ano. Todos voltavam felizes e realizados para casa, abençoados pelo Padroeiro!
As ceias eram preparadas pelas senhoras Amália Troleis, Palmira Macri, Linda Spolon, Laudelina Cera, Irene Junqueira, Maria da Conceição ( Tija ), Yvone Cury, Guiomar Soubhia, Duzolina e Irene Spolon, Cida Salermo, Emengarda Maionchi, Ozenir Bassan Ruy, Alice da Silva, Neuza Lichotto, Aparecida Mendonça Costa e tantas e tantas outras, que participaram como colaboradoras. As senhoras Tija e Irene continuam firmes e fortes, até hoje. Belos exemplos!

Bons tempos!
Para se ter uma ideia do sucesso dessas festas, basta dar uma olhadinha no Jornal Diário da Região, de Rio Preto, do dia 23 de julho de 1950:
“A 29 do corrente, grandes festejos assinalarão o Dia do Senhor Bom Jesus! Dia 6, pela madrugada, haverá alvorada. Às 7 horas, missa e comunhão geral; às 9, missa cantada; às 16:30, imponente procissão. A banda musical “Gomes Puchini”, abrilhantará os festejos nos últimos dias.
Na chácara do Dr. Nestor de Vasconcelos será realizado grande leilão de gado.
A renda das festividades será em favor dos trabalhos de reforma da Igreja Matriz de Monte Aprazível.
Os festejos do padroeiro confirmarão, mais uma vez, o elevado espírito de religiosidade do povo de Monte Aprazível.”
Taí! Eta festança boa!
*Agradecemos a colaboração da Tija, Irene Junqueira e Zezo.
Obs.: A dona Irene Junqueira e a Tija colecionam todos os Programas da Festa, desde 1979. Parabéns!



Em tempo: A Festa de Agosto, na verdade, começou em janeiro, em homenagem ao outro padroeiro da cidade: São Sebastião. Como é um período chuvoso e não havia estradas asfaltadas era impossível, ao morador da zona rural, a maioria da população, se deslocar para a festa. A solução foi comemorar a data do outro padroeiro, Bom Jesus, em agosto, o mês menos chuvoso do calendário, segundo informações de Giuseppe Paulinich
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