Vereadores interditam vacina contra a Covid no prédio da Câmara; ato indigna moradora
- A Voz Regional
- 21 de mai. de 2021
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Queila : “Se em Rio Preto a vacinação é feita no Recinto de Animais, por que a Câmara de Monte não é local adequado”?
A cidadã Queila Moraes empreendeu uma campanha em Monte Aprazível, usando aplicativos de mensagens e órgãos de imprensa tradicionais e está disposta até a gravar vídeos para redes sociais, para denunciar o que chama de “falta de solidariedade dos vereadores, em plena pandemia, de proibir que a vacina seja na Câmara.”
A vacinação dos grupos elegíveis para a vacina vinha sendo feita na rua, no estacionamento das ambulâncias do Centro de Saúde, com as filas formadas na calçada. Desde o início de maio, a vacinação passou a ser feita no prédio da Câmara. O presidente da Câmara, Alexandre Migalha (PP), nesta semana, enviou ofício ao prefeito Márcio Miguel sugerindo que a vacinação fosse deslocada para local mais adequado, sugerindo as unidades básicas de saúde.
Queila Moraes questiona a sugestão da presidência. “É certo que procedimentos médicos devam ser feitos em estabelecimentos médicos, mas em uma pandemia, com quase meio milhão de mortes no país, o conceito de adequado é o mais seguro e o mais humanizado possível para a população. Não é seguro misturar os pacientes, os doentes usuários das unidades básicas e hospitais com pessoas sãs, que são as elegíveis para a vacina. Em Rio Preto a vacina é feita no Recinto de Exposição, usado para abrigar animais, e em uma antiga fábrica de benefício de algodão. Todos os espaços seguros são indicados e não são indicados justamente os postos de saúde que concentram doentes e suspeitos de contaminação. A vacinação voltou a ser feita no estacionamento. Por acaso, estacionamento é local adequado? Não é, mas é o que temos na cidade, com os vereadores se recusando a ceder o prédio da Câmara. O povo que fique na calçada, sob sol, frio e chuva por ter vereadores insensíveis”, frisa Queila.
No ofício ao prefeito, Alexandre Migalha alega ainda que o custo de desinfecção (a ser realizada antes das duas sessões mensais da Casa) seria oneroso. “Eu não acredito que a população iria reclamar que o seu dinheiro fosse usado no combate do coronavírus. O dinheiro destinado à Câmara é dinheiro do contribuinte e é para ser gasto em seu benefício”, rebate Queila.
Depois que o questionamento da moradora se tornou público, a Câmara divulgou nota de esclarecimento, em que a presidência e os demais vereadores detalham as justificativas pela não continuidade dos serviços de vacinação na Câmara, alegando que não impediu o serviço, apenas sugeriu que se utilizasse as dependências do sistema de saúde ou outros prédios públicos. Por decisão da própria direção da área da saúde, o serviço retornou ao estacionamento do Centro de Saúde. “Vamos manter a vacinação no estacionamento, com as filas na calçada, sob chuva, sol ou frio. Não iremos para outro local, mesmo que houvesse, pois seríamos enxotadas do mesmo jeito, como fomos da Câmara”, afirmou uma servidora que preferiu não se identificar.
Em contato com a A Voz Regional, Alexandre Migalha acusou Queila Moraes de fazer uso político do episódio por pretender ser candidata a vereadora em 2024. “Ela não está pensando nos riscos que correm os idosos se aglomerando na Câmara, os riscos dos funcionários, vários deles com comorbidades.”
Queila refuta qualquer intenção de se candidatar. “Ser vereadora não está no meu horizonte. O presidente recorre a um velho argumento usado pelo machismo e pelo preconceito de desqualificar a mulher, principalmente se essa mulher é como eu, que tem consciência sobre direitos e cidadania. É assim que o machista age por não saber lidar com as questões de cidadania. Os vereadores enfiaram o pé na jaca por não saberem lidar com os espaços públicos e com as questões de cidadania e não sabem sair da enrascada em que se meteram. São eles é que estão preocupados com a eleição de 2024, com a grosseria e falta de solidariedade que cometeram agora”, sentenciou Queila.
Usando do eufemismo de “quebra de protocolo”, Alexandre Migalha admitiu a A Voz Regional que o motivo principal do imbróglio teria sido o fato de as enfermeiras “circularem de jaleco” por outras dependências da Câmara e que teriam “invadido” a sala do café.
“Soube dessas conversas de bastidores. Mesmo que isso tivesse ocorrido (a circulação), seria uma questão disciplinar que a chefia delas teria resolvido. Quanto à máquina de café, segundo me consta, foram autorizadas. Aliás, pelo trabalho que elas realizam no momento, de salvar vidas, elas deveriam ter sido recebidas na Câmara, todas as manhãs, com uma mesa de café colonial”, finalizou Queila, ironizando.
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