Brincadeiras tradicionais devem substituir as diversões eletrônica, diz psicóloga
- A Voz Regional
- 10 de out. de 2016
- 5 min de leitura
Hoje em dia, as crianças estão envolvidas em tantas atividades que perdem a noção do que é ser criança. Escola meio período ou período integral, inglês, balé, natação, espanhol, karatê etc. E o tempo para as brincadeiras, para o lazer e para as novas descobertas? Será que tudo isso não terá consequências na juventude e na idade adulta? A psicóloga Laura Lúcia dos Santos Leher diz que “as crianças têm energia de sobra, mas é preciso equilíbrio para ocupar o tempo livre”. Segundo ela, as atividades extracurriculares, desde que não sobrecarreguem, são uma boa forma de a criança aprender a interagir com o semelhante. Mas ela alerta que é importante os responsáveis estarem atentos aos sinais de falta de interesse da criança, tais como desânimo, cansaço, vontade de faltar às aulas. Nesses casos, diz, é melhor não insistir. Laura diz que as atividades extracurriculares são importantes porque além de tirarem a criança da frente da televisão e dos jogos eletrônicos, faz com que ela se socialize. “A natação, o inglês, o judô, enfim as atividades extras da criança farão com que ela interaja com outras crianças, o que é fundamental para que ela se socialize. Com esse convívio, a criança constrói e obedece regras, dialoga com outras crianças, o que é necessário para sua formação. Ela se cria e se recria e estabelece vínculo emocional”. No entanto, é necessário, segundo ela, que seja reservado horário para a criança brincar, pois “são as atividades lúdicas que incidem na autonomia da criança, que desenvolveram habilidades psicomotoras, ritmo, equilíbrio, as emoções, respeito entre outras habilidades”. “O diálogo com os semelhantes, seja criança ou adulto, o olhar olho no olho é super importante para a criança – diz – além do mais, existe uma enorme diferença entre a criança ver uma estória na televisão e ouvir uma história contada, pois na TV os personagens, cores, sons já vem prontos e a criança fica passiva diante da estória assistida, já a estória contada faz fluir a imaginação da criança. Ela cria os personagens e nas brincadeiras com outras crianças ela trabalha com a mente e o corpo, enquanto que ocupando seu tempo livre apenas com TV ou jogos eletrônicos ela trabalha apenas a mente e ainda assim de forma passiva. As brincadeiras são fundamentais”. Ela conclui dizendo que prefere que a criança tenha seu tempo ocupado por atividades extracurriculares do que permanecer estática na frente da TV ou celular, “mas tem que brincar também, tudo tem que ser trabalhado dentro do limite da criança, caso contrário causa prejuízo no futuro dela. Não existe regra rígida, tem que ter um limite nas atividades, os pais tem que ter bom senso, aliás, fico radiante quando vejo um pai brincar com o filho, principalmente quando são as brincadeiras tradicionais. São os pais interagindo com os filhos”, encerra.
PAIS PRESENTES E TRADICIONAIS
O dia a dia cada vez mais corrido faz com que os pais acabem deixando as brincadeiras com os filhos para depois, mas brincadeira é coisa séria. Especialistas afirmam que brincar é fundamental para que a criança desenvolva habilidades intelectuais e emocionais essenciais no futuro e alertam que apenas 15 minutos de brincadeira com os filhos fazem toda a diferença para o seu desenvolvimento. A bancária Roberta Martin Spolon Vasques e o pintor Rogério Fernandes de Carvalho são pais que levam a brincadeira com os filhos tão a sério que têm tempo reservado para isso. E as brincadeiras são as tradicionais. Roberta conta que leva as filhas para passear com a cachorra, “coisa que elas gostam muito”, levo no parquinho e para andar a cavalo, “atividade que elas adoram”, levo para comerem fruta no pé e andarem de bicicleta, mas levo também para jogarem voley, atividade que eu considero importante porque elas brincam com bola, coisa que as crianças de hoje pouco fazem”, comenta. Ela diz que uma das principais brincadeiras que ela e o marido fazem junto com as filhas é andar de bicicleta. “Considero super importante porque elas aprendem uma série de coisas, desde noções de trânsito, porque pedalamos na cidade, até de meio ambiente, porque também pedalamos em estradas rurais, além disso aprendem o companheirismo, já que um sempre espera o que está mais atrás para pedalarmos juntos”. As filhas de Roberta, uma de 6 e outra de 10 anos, também tem atividades extracurriculares. Elas fazem inglês duas vezes por semana “e a mais velha está na catequese. “Me preocupo em ocupá-las com atividades diversas para tirá-las da frente da TV e do celular, além de proporcionar lazer e atividade física a elas”, diz. Mas Roberta diz acompanhar as filhas bem de perto. “Fico atenta aos sinais delas, porque me preocupo em sufocá-las com um monte de atividades, porque elas já têm bastante tarefa, tem uma sobrecarga intelectual mais que a nossa nessa idade. Apesar de que eu acho que a criança se acostuma com as várias atividades, mas brincar também é importante”. O filho de Rogério, ainda é pequeno, está com dois anos e meio, mas também tem sua rotina estabelecida na creche onde está matriculado. Durante o tempo livre Rogério diz que faz questão de compartilhar com o filho brincando. “A gente brica de caminhãozinho, de bola, de motoquinha, eu solto pipa com ele, enfim a gente brinca muito junto, todo o tempo que eu tenho livre procuro estar com ele”, diz. Rogério acredita que o excesso de atividades extracurriculares que as crianças têm hoje é em razão das atividades profissionais dos pais. “Hoje o pai e a mãe trabalham fora, então a criança fica sem o suporte da mãe. Acho que para compensar isso, os pais lotam as crianças de atividade durante o dia todo, mas no meu ponto de vista, isso ainda é melhor do que deixar a criança o dia todo na frente da TV ou jogando no celular. Eu pelo menos pretendo protelar ao máximo o contato do meu filho com jogos eletrônicos. Prefiro brincar com ele”.
E A PIPA VIROU NEGÓCIO
Uma das brincadeiras tradicionais é soltar pipas, afinal, é cultural e um bom programa para pais e filhos. Soltar pipas pode ser uma brincadeira de rua, mas essa atividade é também considerada um esporte, pois existem vários campeonatos espalhados por aí.
Altino Conceição, popularmente conhecido pelo apelido de Neves, fez das pipas seu empreendimento comercial. Ele é proprietário da Neves Comércio de Pipas Acessório e Artigos de Época. Para ele, a pipa é uma terapia. “Alivia a mente, soltar pipas é uma paixão que geralmente começa na infância e se prolonga pra vida toda”, diz. Neves diz que seu negócio sobrevive graças ao gosto de pais e filhos, adultos, jovens e crianças pelas pipas. “Os pais vêm buscar pipas para os filhos e os avós para os netos – conta – dizem que é um meio de tirar a criança e adolescente do vídeo game e do celular”. Ele conta que “na época de pipas (de junho a agosto e de dezembro a fevereiro) a criança se modifica completamente. Eu diria que já não há interesse pela pipa e sim uma febre, uma tradição, um costume. O perfil de nossos clientes é variado demais vai de crianças de 4 anos até gente com 60 anos de idade. Até esses garotões de 18, 19 anos vem buscar pipas para soltar”. O gosto por pipas é tão grande que Neves já ultrapassou as fronteiras de Monte Aprazível com suas pipas. “Vendo pipas em Monte e em Poloni, quando chegou em Poloni com as pipas vendo todas as que levo”. De acordo com Neves, a preferência dos pipeiros é pelo modelo carioca, raia e as de combate. “A raia é a tradicional, mas as outras também têm boa saída – conta – as crianças juntam moedas para comprar pipas. É uma loucura”, finaliza.
Comments