Heranças vindas da África
- A Voz Regional
- 29 de ago. de 2016
- 3 min de leitura
País descoberto e colonizado, na sua maioria, pelos portugueses, o Brasil passou ao longo dos anos sendo marcado pela grande mistura e influência daqueles que aqui chegaram e contribuíram para o desenvolvimento da cultura e formação do povo brasileiro. Uma das heranças mais presentes da colonização é o idioma de vários povos, desde o indígena, que aqui habitavam, ao de povos que vieram durante a colonização, como o africano. Além dos portugueses, o povo africano foi o que mais teve pessoas instaladas no território descoberto por volta de 1500, tendo uma das maiores influencias no nosso idioma. A transformação da língua vinda de Portugal é tamanha que na língua portuguesa praticada no Brasil tem aproximadamente 5 mil palavras de origem africana, segundo o Centro de Estudos Linguísticos da Universidade de São Paulo (USP). São cerca de 300 línguas que influenciam o falar dos brasileiros até hoje, oriundos de regiões como o Sudão, Angola, Moçambique e Benin. O coordenador do curso de História da FAECA Dom Bosco, Elieser Justino, afirma que a introdução de mais palavras no nosso idioma foi um processo natural durante a chegada dos escravos por volta de 1530. “Conforme os escravos chegavam o diálogo deles incorporavam mais palavras a língua dos portugueses e conforme as gerações passavam isto aumentava”. Ainda de acordo com o professor, as palavras estão presentes no cotidiano do brasileiro, que nem sempre percebe esta influência. “Palavras como moleque, cachaça, cachimbo, axé, e outras são faladas diariamente e poucas pessoas conhecem a origem delas”. O historiador relembra ainda que o desconhecimento da origem das palavras também atinge outros idiomas e outros costumes presentes no cotidiano do brasileiro. “Até mesmo as palavras de origem portuguesa, árabes ou então de outros locais, também passam despercebidos”. Para Lena Moreira, coordenadora do Conselho de Participação do Desenvolvimento da Cultura Negra de Votuporanga, seria preciso desenvolver projetos na escola para incentivar a disseminação da origem das palavras. “Seria interessante que nas escolas desenvolvessem algo mais intenso no ensino da cultura africana e até mesmo daqueles que contribuíram para a o desenvolvimento e formação do Brasil”. A militante ressalta ainda as dificuldades enfrentadas na divulgação da importância do povo africano no desenvolvimento no território brasileiro. “Quando falamos em cultura africana, logo se pensa, nos ritmos musicais, nas danças, ou então na capoeira, culinária e ignoram a inserção de palavras no nosso idioma”.
Palavras do dia a dia made in África
ABADÁ – Túnica folgada e comprida. Atualmente, no Brasil, é o nome dado a uma camisa ou camiseta usada pelos integrantes de blocos e trios elétricos carnavalescos. BAGUNÇA – Baderna, desordem. BANGUELA – Desdentado. Os escravos trazidos do porto de Benguela, em Angola, costumavam limar ou arrancar os dentes superiores. BUNDA – Nádegas, na língua falada pelos bundos de Angola. CAÇAMBA – Balde para tirar água de um poço; local onde se depositam detritos. CACHAÇA – Bebida alcoólica; pinga; durante muito tempo, os negros escravizados, banhados em suor, giravam manualmente as rodas dos engenhos de açúcar e, do vapor originário da fervura do caldo da cana, escorria pela parede e pingava do teto (daí o porque o nome “pinga”)a bebida de sabor clássico, que ardia nos olhos e foi batizada de “pinga”. CACHIMBO – Tubo de fumar, com um lugar escavado na ponta para se colocar o tabaco. CAFUNÉ – Coçar a cabeça de alguém. FUBÁ – Farinha de milho. MOLEQUE – Negrinho. Indivíduo irresponsável. Canalha. Patife. PERRENGUE – Dificuldade ou aperto financeiro. Diz-se também da pessoa fraca. Covarde. Animal imprestável. SAPECA – Diz-se de moça muito namoradeira ou assanhada. Diz-se também da criança muito arteira. URUCUBACA – Azar. Má sorte. Diz-se também de uma praga rogada por pessoa inimiga.
Σχόλια