top of page

Trabalhador para a vida inteira

  • Foto do escritor: A Voz Regional
    A Voz Regional
  • 12 de dez. de 2016
  • 4 min de leitura

Governo propõe aumento da idade mínima para a aposentadoria e tempo de contribuição. Veja como ficaria a situação se for aprovada e como ela pode impactar sua vida de contribuinte


Baltazar já vem a algum tempo se preparando para uma vida tranquila, descansar, curtir a esposa e a presença dos 3 filhos e tudo mais que a sonhada aposentadoria proporciona. Aos 55 anos de idades, sendo 35 deles de contribuição para Previdência, o vigilante noturno deixou a tranquilidade de lado e está preocupado com as mudanças que pode ocorrer na Previdência e alterar os seus planos de aposentadoria.”Já me falaram que não vai mudar de uma hora para outra e no meu caso, eu teria uma fase de transição, mas toda esta conversa não deixa a gente tranquilo, fico preocupado”, comenta Baltazar Lopes sobre a situação atual do seu processo de aposentadoria. Ainda de acordo com o vigilante, funcionários da Previdência o orientaram que ele será encaixado na lei antiga da aposentadoria.

Durante esta semana, além de Baltazar, milhões de trabalhadores brasileiros acompanharam a apresentação do projeto de reforma da Previdência formulado pelo Governo Federal que, se aprovado, deverá entrar em vigor a partir de 2017. Pela proposta da emenda constitucional, a idade mínima para que os brasileiros possam aposentar passa ser de 65 anos tanto para homens e mulheres, com tempo mínimo de 25 anos de contribuição. A situação fica mais crítica para aqueles que desejarem receber 100% do valor integral, que terão que ter 49 anos de contribuição, mesmo tendo os 65 anos de idade.

O fiscal de renda aposentado e colunista de A Voz Regional João Francisco Neto acredita que a medida do governo, mesmo que necessária, ficou acima da realidade brasileira. “Nos últimos anos, tivemos muitas mudanças, as pessoas estão vivendo mais realmente e recebendo por mais tempo a aposentadoria. Com estes critérios, estaremos com idade mínima a frente de outros países, como a França que tem idade mínima de 62 anos.” João Francisco acredita numa medida radical que causará impacto direto na vida do trabalhador. “Eu entendo que foi acima da média, a mão do presidente foi pesada nesta mudança, algo muito drástico que impacta na vida do trabalhador brasileiro.”

Ainda de acordo com João, o projeto merece um pouco mais de estudo antes de ser levado para aprovação. “É algo que deveria ser pensado calmamente, pois mexe com a vida de milhões de pessoas que trabalharam e contribuíram durante anos na expectativa de aposentar e agora vão demorar pra realizar este desejo.” Ele ainda comenta da forma com que o processo vem sendo realizado. “O atual governo federal deseja fazer uma mudança drástica que, sim deveria ter sido feita lá atrás por outros governos, mas que vindo de forma repentina agora, vai impactar negativamente na vida do trabalhador brasileiro.”

Com a diminuição de pessoas que irão receber o beneficio da aposentadoria, a Previdência espera quitar parte dos débitos da entidade que hoje ultrapassa a casa dos R$230 bilhões. Segundo o fiscal, esta é uma medida que poderá gerar impactos a médio prazo para as finanças do governo federal e aliviar a dívida. “Caso seja aprovada, ano que vem o governo já sentirá um beneficio curto, pois terá menos gente para pagar a aposentadoria, mas quitar tudo mesmo vai demorar um pouco ainda.”

Problema permanente

João acredita que mesmo com esta proposta, os problemas na Previdência Social no Brasil estão longe de acabar. E isso não é exclusividade. “A maioria do continente europeu, o Japão também sofre com o problema da aposentadoria dos mais velhos, muitos países passam por esta dificuldade, mas não conheço que são usadas medidas drásticas.”

Para ele, o rombo dos cofres da previdência ocorre por dificuldades na estruturação dos gastos da entidade. Além dos gastos com a aposentadoria dos contribuintes, João lembra que os recursos também são destinados ao assistencialismo social. “É claro que se deve assistir aos que não contribuem, mas necessitam da aposentadoria mensal, porém é preciso elaborar medidas que não deixem a Previdência no vermelho, só assim conseguirá melhorar as contas.”

João ainda acredita que a proposta de reforma da Previdência sofrerá algumas alterações antes de ser aprovada em Brasília. “Como ela prevê medidas muito drásticas eu acredito que serão feitas emendas, ressalvas para que o projeto seja aprovado, desconfio que dificilmente passe do jeito que está.”

Aposentar quando?

Com a apresentação do pedido de reforma da Previdência, os trabalhadores brasileiros começaram a se preocupar com o futuro, mesmo aqueles que começaram trabalhar recentemente com a carteira assinada. Até mesmo os trabalhadores que estão prestes a receber o benefício ficaram com a pulga atrás da orelha e irão acompanhar intensamente a movimentação do projeto.

Alessandra Lima, recém contratada para trabalhar como balconista, afirma que ficou assustada com o que leu sobre quanto tempo terá que trabalhar para ter um período mais tranquilo. “Demoram para contratar a gente, pois temos que ser maior de idade, depois eles desejam que a gente trabalhe quase 50 anos para ter o dinheiro que é descontado todo mês do nosso salário, é revoltante.”

Com 18 anos e no primeiro emprego, ela também pensa nos pais que já planejavam se aposentar e que vêem a possibilidade de parar de trabalhar ficar um pouco mais distante. “Meu pai é mecânico, serviço pesado e nas contas dele faltavam uns treze anos para ‘ficar de boa’ como ele mesmo fala, se a lei for aprovada terá que ficar mais tempo ‘ralando’ e não se sabe se aguentará. Quando viu o projeto na TV ficou muito revoltado.”

Outro que também ficou revoltado com a possibilidade de aprovação do projeto é Baltazar Lopes. “Me sinto frustrado, pois trabalhei a vida inteira e agora para ter o beneficio corro o risco de ter que trabalhar ainda mais. Eles não pensam no povo, pensam somente neles, isto revolta a gente.”

O vigilante noturno acredita que muitos trabalhadores irão sofrer para entrar com os pedidos de aposentadoria. “No meu caso meu filho é advogado e ele fará isso por mim, mas aqueles que terão que contratar um profissional, o sofrimento e o desgaste será bem maior, será bem cansativo.” ele ainda comenta. “É uma pena ter que trabalhar mais ainda para conseguir um direito seu, enquanto que os grandões (deputados e senadores) conseguem fazer o que querem e ainda judiam do povo.”

コメント


A Voz Regional © 2020

bottom of page