2º mandato ameaçado: Norair é denunciado por comprar voto e abuso de poder econômico
- A Voz Regional
- 23 de dez. de 2020
- 4 min de leitura
Prefeito diz desconhecer ação de servidores no crime eleitoral de distribuição de camisetas
Para Norair da Silveira, o prefeito reeleito em Tanabi, as cinco denúncias apresentadas à Justiça Eleitoral e uma representação civil por improbidade administrativa ao Ministério Público contra a coligação dele não passam de “choro de perdedor”. “Eles têm que entender que perderam e respeitar a vontade da maioria e irem para casa, como eu fiz em 2004, quando perdi.”
Mas, para Eduardo Canhizares, advogado da coligação derrotada, não é honesto com a democracia ir para casa ao perder uma eleição por uma diferença de apenas 12 votos e descobrir uma série de fatos que apontam para possíveis suspeitas de compra de votos e envolvimento da prefeitura, servidores municipais e bens públicos na campanha eleitoral.
As ações propostas contra o prefeito por Eduardo Canhizares têm como base o depoimento prestado pelo motorista municipal, Mauro Parra, em inquérito aberto pela polícia civil local que investiga a suposta distribuição de camisetas e dinheiro pela campanha de Norair no dia da votação. Por envolver autoridade eleita com foro privilegiado, a investigação local foi transferida para a Delegacia Seccional de Polícia.
Em seu depoimento, Mauro alega ter recebido ordem par ir a São Paulo buscar um lote mil camisetas, com o carro oficial do prefeito, o Azera 01, na distribuidora de roupas Global Mix, no Braz, bairro de comércio popular da capital. Para custear a viagem teria sido feito um empenho na contabilidade da prefeitura no valor de R$ 500,00 e o dinheiro liberado ao motorista.
Para Canhizares concorreram para que a viagem ocorresse o secretário da administração e cunhado do prefeito, Alvanir Ventura, responsável pela liberação do dinheiro, o gerente da cidade, Eder Miola, responsável pela liberação do motorista e o secretário de serviços, Davi Góes, pela liberação do veículo.
Para o advogado, com tantos funcionários do primeiro escalão do governo envolvidos não se pode negar o envolvimento, conhecimento e anuência de Norair com as irregularidades.
Foi trilhando o caminho do dinheiro que a investigação se aproximou mais do prefeito Norair. A distribuidora Global, em seu site, anunciava até ontem camisetas simples, idênticas às usadas por apoiadores de Norair a R$ 12,00. O pagamento de R$ 12 mil por mil camisetas foi efetuado por Marina Salomão, filha do secretário municipal de Direitos Humanos, Samuel Garcia Salomão, que foi representante na Justiça Eleitoral da campanha de Norair.
A nota fiscal faturada foi em nome de pessoa física, parenta da família Garcia. A quebra do sigilo da conta bancária de Marina pode indicar se o dinheiro saiu diretamente de sua conta ou se sua conta recebeu depósito de terceiros, fato que identificaria o financiador da compra.
Samuel Garcia nega que a filha tenha comprado camisetas distribuídas na campanha. Ele alega que Mariana emprestou o dinheiro ao primo, Saul, dono de uma loja de roupas em Ribeirão Preto. Samuel disse ainda não saber se parte das camisetas foi vendida ou distribuída por Saul em Tanabi.
Segundo a denúncia, as camisetas, bem simples, estariam recheadas com nota de R$ 100,00. Pelo menos três depoimentos colhidos na delegacia local comprovam a versão. Está sob investigação, também, o local em que houve a distribuição das camisetas com dinheiro, que segundo fontes, seria de prédio de parente de Deva Zanetoni, pai do candidato a vice na chapa de Norair.
Não sei de nada
Norair da Silveira nega qualquer envolvimento no episódio da compra e distribuição de camiseta e diz não haver empenho assinado por seu cunhado para pagamento de despesas de Mauro. O prefeito explicou que pelo tempo de serviço e como motorista, as viagens de Mauro são usuais e frequentes e que o procedimento é ele se dirigir à contabilidade e solicitar as diárias quando vai viajar, o dinheiro é liberado e na volta ele presta conta.
“É estranho que dias antes, o Mauro esteve na casa do Valdir (Valdir Uchoa, candidato adversário). Não sei o que conversaram, sei que Mauro comentava seu descontentamento de que não cumpri promessa de vantagens a ele no cargo. Não cumpri, pois não fiz promessa nenhuma. Como candidato não comprei camiseta, não distribui camiseta, não autorizei buscar camiseta, não tomei conhecimento de nada em relação a camiseta. Eu sequer ia à prefeitura durante a campanha, não falei com Mauro e não autorizei ninguém a falar com ele. Estou sabendo que ele tratou dessa viagem com Benedito Vieira, encarregado do empenho. Se ele foi em São Paulo buscar camiseta, foi por iniciativa dele, sem meu conhecimento”, reafirma.
Valdir Uchoa negou que tenha recebido Mauro em sua casa ou ter falado com ele em qualquer outro lugar durante a campanha.
O celular de Mauro foi apreendido e na quebra do sigilo telefônico podem surgir conversas e mensagens reveladoras.
Apesar das provas contundentes, Norair não demonstra preocupação, reafirmando tratar-se de “desespero de quem gastou fortunas na campanha e agora precisa da prefeitura para pagar as contas.” Para ele, a Justiça há de respeitar a vontade da maioria dos eleitores.
As ações propostas por Eduardo Canhizares são de impugnação de mandato, por prestação irregular de contas, por abuso de poder econômico e político, por compra de votos e por conduta vedada a gestor público. E ainda representação no Ministério Público por improbidade administrativa.
A própria coligação de Valdir admite ser remotíssima a impugnação do mandato, mas nutre esperança em desfecho favorável nas demais ações. Caso venha ocorrer a cassação do prefeito e vice (Devinha Zanetoni, em qualquer tempo dentro do mandato, será convocada nova eleição, em noventa dias depois da decisão.
Exceto Norair e Devinha, qualquer eleitor filiado ao partido há no mínimo seis vezes, pode se candidatar.
Comentarios