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Deva Paschoalon, vítima do acidente da Chapecoense, será enterrado neste domingo em Monte

  • Foto do escritor: A Voz Regional
    A Voz Regional
  • 3 de dez. de 2016
  • 5 min de leitura

O aprazivelense Deva Paschoalon, uma das 71 vítimas do acidente em Medellin, narrou  3 Olimpíadas e 2 Copas do Mundo na TV e foi uma das principais vozes do rádio esportivo no Brasil 

Com pequenas frases ou palavras como; “Cara a cara”, “GoooOOOL”(assim mesmo com nuances na voz) e o inconfundível “Preeeeepare-se” naquele tom de voz inigualável e impressionante que marcaram o nome e a presença de Deva Pascovicci no jornalismo esportivo. O aprazivelense que tanto emocionou os brasileiros, independente do clube para quem torciam, na última terça feira causou arrepios e lágrimas não pelos seus bordões ou pelos gritos de quem vivia o esporte, mas sim pelo silêncio de uma tragédia.

Devair Pascovicci nasceu Devair Paschoalon, no dia 28 de setembro de 1965, uma terça feira, na fazenda Fortaleza, zona rural de Monte Aprazível. Era o filho caçula do casal Arlindo e Angelina, que já tinham a Neide, a Neuza e o José Carlos. A vontade do casal em ter os filhos estudados e com melhores condições de vida fez com que toda família viesse arriscar a sorte na cidade.

Uma casa simples no cruzamento das Ruas Washington Luiz e Presidente Vargas, onde hoje fica a sede da Associação Comercial de Monte Aprazível, foi o local escolhido pela família. Para Deva não tinha lugar melhor, um campinho improvisado ali perto, seria o palco principal da sua infância nas peladas com os amigos e também onde ensaiaria as primeiras narrações.

A nova residência dos Paschoalon não poderia ficar ainda melhor. Além do campinho, não muito longe dali, mais precisamente na rodoviária de Monte, foi instalada a Rádio Difusora. A rádio local seria o primeiro lugar de trabalho de Deva que não escondia a vontade de entrar pro mundo do rádio e foi depois de muita insistência ao amigo Edgar Vicente que ele conseguiu. Com apenas 12 anos de idade o menino, filho do trabalhador braçal Arlindo e da lavadeira Angelina, se tornava o discotecário da Difusora.

Com a competência, além dos treinamentos feitos no campinho do buracão, Deva foi ganhando espaço entre os colegas de profissão que o levaram para rádios de Rio Preto, Mirassol, Rondonópolis, Jales e depois São Paulo. A voz com tom suave, mas ao mesmo tempo forte, passou das ondas do rádio e foi parar nas telinhas da televisão.

Com um trabalho primoroso na Manchete, Deva, agora já sendo o Pascovicci, foi para o SporTV e lá foi o narrador da primeira transmissão do pay per view, sistema fechado de transmissões da TV por assinatura. Depois de vários anos na telinha, Deva foi novamente para as ondas do rádio. A Central Brasileira de Noticias, CBN, foi a casa do aprazivelense por 13 anos, até meados do ano passado.

Como empresário, conseguiu realizar o sonho de ter uma emissora de rádio e de quebra foi pertinho de onde sua família morava, em Rio Preto. Em agosto de 2014 conseguiu colocar no ar a CBN Grandes Lagos, 107,9. Já perto de completar 50 anos de vida mostrou ousadia ao apostar, como a própria equipe montada por ele gosta de definir, em profissionais recém formados, ou aqueles que ainda nem tinham formado, mas que excelentemente deram conta do recado e consolidaram a rádio entre as mais fortes da região noroeste paulista.

Fora do rádio ou da TV foi herói também, não só para suas duas filhas, esposa, amigos e companheiros de trabalho, mas para a própria vida. Lutou contra o câncer por duas vezes, talvez num dos momentos mais brilhantes de sua carreira. Durante a batalha contra a doença chegou a ficar quinze dias em coma, mas se recuperou e quis voltar a trabalhar.

E foi numa ida para o trabalho que Devair foi surpreendido por uma destas peças que a vida proporciona. O dono da voz que emocionava a todos com os gritos de “cara a cara” “Goool” e “Prepare-se”, emocionou o país, infelizmente sem dizer uma palavra.

A bronca que valia a pena

Agnes Rubinho, jornalista contratada por Deva Pascovicci no inicio da CBN Grandes Lagos

“O meu primeiro contato com o Deva foi quando eu estava tentando uma vaga na área de jornalismo. Depois de gravar um texto e ficar um tempo conversando com ele, ficou decidido que iria começar a trabalhar com ele. Foi engraçado porque inicialmente ele me pediu pra esperar a entrevista de outras pessoas, mas ficamos conversando por um bom tempo até que ele decidiu que era pra começar na próxima semana já. Deva tratava todo mundo igual, explicava as coisas, mas eu sabia que se estivesse nervoso nem adiantava debater muito. A bronca dele era para ser ouvida mesmo, pois geralmente era algo que servia para o aprendizado da gente. Esta sendo muito complicado estes dias, entrar e olhar pra sala dele, ver as coisas dele e pensar em toda tragédia. O clima esta muito triste sem ele.”

O pedido de emprego e uma aula

Edvandro Ferreira foi pedir emprego na rádio e ganhou uma aula de locução esportiva

“Cheguei para entregar meu currículo e o encontrei numa sala na entrada da rádio. Já o conhecia das transmissões do futebol, mas nunca o tinha visto pessoalmente. Quando viu no meu currículo que era de Monte, abriu um sorriso e começou a contar das histórias no campinho do buracão. Perguntou sobre o amigos Edgar Vicente, Celso Vicente e do Tartaruga. Perguntou se eu narrava também, respondi, meio vergonhoso, que estava começando a narrar para uma TV de Votuporanga. Enquanto ele acompanhava atentamente as narrações pela internet eu ficava aflito, não é todo dia que você consegue mostrar o seu trabalho pra um ícone da locução esportiva. Me deu várias dicas ‘Sua respiração está um pouco curta, dá para estender um pouco mais o grito de gol, explorar mais o grave da tua voz, mas está num ritmo legal, está num caminho bom’. Foram quinze ou vinte minutos de um bate papo e uma aula onde ele mostrou estar feliz por ver um aprazivelense no jornalismo esportivo e em passar o conhecimento que tinha.”

O garoto levado que entrou pro rádio

Edgar Vicente foi um dos que ajudou Deva entrar no primeiro emprego, a Difusora de Monte.

“Estudamos juntos durante a infância e ficávamos muito tempo num campinho perto de casa. A gente jogava bola e ele ficava com um cone narrando as partidas do nosso time, era o que ele mais gostava. Depois da dona Angelina reclamar várias vezes da bagunça que ele fazia, e de vários pedidos insistentes dele para que eu conseguisse um lugar pra ele trabalhar, consegui um espaço como discotecário pra ele na Difusora, que era ali na rodoviária, colado na casa dele. Depois de um tempo ele foi pra Rio Preto, Mirassol, aliás ele foi um dos caras que levantou a FM Diário, passou pra Rondonópolis, Jales, São Paulo e não parou mais. Sempre que passava por aqui me ligava, passava na minha finada mãe. No meio dos jogos sempre mandava mensagem pra ele e ele respondia brincando “Meu querido amigo meu herói Edgar”. Quis entregar uma medalha de honra do município pra ele, mas ele não quis, não gostava muito destas coisas. Ele foi um companheiro sim, um grande amigo. Era uma pessoa determinada que graças a Deus, sempre batalhava e conseguia o que queria.”

Calma Neuzinha

Neusa Paschoalon irmã mais velha de Deva lembra a calma e o carinho que ele tinha com a família

“Viemos do sítio e trabalhamos desde pequenos com nossos pais, mas quando dava o Deva escapava pro campinho perto de casa. Com 12 anos ele já estava no rádio e amava aquele mundo do rádio. Sempre gostou de comunicação de estar no rádio, esta foi a única profissão dele. Eu era o oposto dele, sempre fui mais agitada e as vezes quando eu estava apavorada querendo resolver as coisas ele naquela calma, naquele tom de voz suave, ficava me falando ‘Calma neuzinha, calma, relaxa’ e aquilo me tranqüilizava.

Conseguiu vencer o câncer duas vezes e mesmo doente no meio do tratamento não parou de trabalhar, falava que aquilo era o que ele gostava e fato ele amava trabalhar. Estava realizando o sonho de ter uma emissora de rádio perto de casa pra poder ficar mais perto da família dos amigos. Foi um irmão, pai, esposo, amigo, maravilhoso sempre voltado pra família.”

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